Foi a minha primeira missão. Foi onde tudo começou, mas nunca escrevi sobre Moçambique. Mas sei que um dia vou fazê-lo. Estive envolvido num projecto de HIV/SIDA, um flagelo imenso neste país com uma das maiores prevalências do mundo. Em algumas zonas de Moçambique 50% das pessoas estão infectadas com o vírus. A sensação que tive nesta missão é que dei uma “ajudinha”, por não ser a área que eu mais domino, e por ter sido mais de apoio e formações do que de medicina propriamente dita. Ouvi histórias de vida incríveis, e foi aqui que abri os olhos para a compreensão da Medicina Humanitária, e já agora a minha paixão tremenda por África. Fiz pouquinho, mas senti imenso e abri os olhos e o coração para todo o mundo de missões que veio a acontecer. Um dia vou escrever sobre Moçambique.
O Congo é um país lindo de morrer, mas que infelizmente sofre de uma guerra terrível. Foi a minha primeira missão “a sério”. Era tudo novo, era tudo intenso, deixei lá um grande pedaço do meu coração.
Foi sem dúvida o local mais longínquo emocionalmente onde estive até hoje, uma sociedade intensa e fechada, mas com gente profundamente inspiradora. Em termos médicos e pessoais vivi, o que ninguém deveria viver.
A cultura, a história, a beleza natural e um povo sem igual, misturados com toda uma vida em guerra, fazem do Afeganistão um país que eu adoro. Entrei assustado e saí inspirado e apaixonado.
Foi onde vivi uma guerra mais de perto. Foi onde vivi mais intensamente um sofrimento de todo um povo. Perceber esta tragédia por dentro foi especial. Nunca mais fui a mesma pessoa.
Fui seduzido emocionalmente pela tragédia da batalha por Mosul. Estava com o coração a tremer com as notícias que via na televisão. Recebi um email onde procuravam médicos como eu. Fui.
Uma história bem africana. Esquecida ou ignorada pelo mundo. Uma pobreza que não tem palavras, num país onde falta tudo menos a vontade de viver. A alma, o ritmo, as cores, os cheiros e sabores ficam para sempre.
É um pequenino país no leste de África, mas muito grande nos seus encantos. Montanhoso, verde, nas bordas do lago Tanganika, seria um pequeno paraíso, não fosse um dos países mais pobres do mundo, e a contas com uma crise política com contornos de genocídio e tendência a piorar. Trabalhei num hospital de trauma, da capital Bujumbura com histórias de vida impressionantes. Passei lá um Natal de coração apertadinho por estar tão longe, mas maravilhado pelo sentimento mágico de estar num sítio tão especial, numa altura do ano tão especial. E foi à saída do Burundi já no avião que tive dos momentos mais emotivos de que me lembro. Estou cheio de vontade de, em breve, começar a escrever sobre o Burundi.
Até hoje a missão mais intensa que vivi como médico. Os casos clínicos alucinantes sucediam-se à proporção da intensidade do conflito. O Yemen, é um país lindo com uma história e uma cultura perdida no tempo e nos tempos. A guerra só veio afundar mais aquele que era já o país Árabe mais pobre de todos. Está um caos. Um estado falhado. Uma dor de alma. Foi uma missão e uma viagem que me roubou um pedaço enorme do coração. Sonho em lá voltar. Dei tudo o que tinha, mas sinto que vou ter de lá voltar para dar algo mais. Arrepia-me a ideia de começar a escrever sobre o Yemen. Vai ser forte. Dizem que é a maior catástrofe humanitária dos últimos 100 anos. Em breve vou escrever tudo que lá vivi.
Era um sonho de adolescente. Sentir a Palestina, compreender algo mais e de preferência ver algum caminho para a resolução do sofrimento de tantas pessoas. É impressionante entrar em Gaza, é literalmente uma prisão. Ninguém pode ficar indiferente a este facto. Mas para mim foi também a missão em que eu encontrei o meu limite e desisti. Curiosamente, não foram as saudades, nem os medos, nem as bombas que me fizeram quebrar. Foi duríssima esta desistência, mas mais do que nunca fez-me rever e fortalecer os meus princípios, os meus códigos de conduta e as minhas paixões humanitárias. Posso estar errado, mas senti e sinto que fiz a coisa certa. Qualquer dia, vou escrever tudo sobre Gaza e o que vi da Cisjordânia e as razões que me rebentaram as emoções.
O mais jovem país do mundo é de longe o país mais sub-desenvolvido que já conheci. Encontrei na minha 13a missão uma África mais pura, mais pobre, mais destructurada do que eu alguma vez, vira. Mas nesta simplicidade que se traduz essencialmente, em fome, sofrimento e numa guerra terrível, encontramos também características do ser humano em bruto, cuja beleza não tem paralelo em nada que vemos à nossa volta. Uma viagem no tempo num país lindo com o rio Nilo a serpentear as suas planícies ora verdes ora desérticas, onde me recheei de aprendizagens de vida, história para além do fantástico e reflexões filosóficas bem aprimoradas. Mal posso esperar para escrever tudo sobre o Sudão do Sul.