Afeganistão – Província de Helmand, LashKar Gah (2012)

Há milénios habitada, esta terra era um dos grandes cruzamentos das rotas da seda. Fez parte da história de grandes impérios: Alexandre, o Grande, os Árabes Muçulmanos, os Mongóis, e os impérios Russo e Britânico. Mas sempre foi, tal como o seu nome indica, a terra dos Afegãos, e por isso ganhou as alcunhas de “Inconquistável” ou de “o cemitério dos impérios” porque vários a tentaram controlar e nunca conseguiram, como a história recente o comprova.

No séc. XIX torna-se um “Estado-tampão” entre os gigantes impérios Russo e Britânico, neste confronto épico a que se chamava o “Great Game”. Várias foram as tentativas dos ingleses de tomar Kabul, mas sofreram invariavelmente duras humilhações militares, o que os fez criar a “linha de Durant” que dividia o Afeganistão da Índia Britânica. Mas, perigosamente, esta linha divide também os Pashtun que são o povo dominante do Afeganistão e daí a relação tão íntima com um grande pedaço do actual Paquistão, por serem o mesmo povo com o mesmo idioma.

Assim se explica também a curiosa língua de terreno que se vê desenhada no mapa do Afeganistão em direcção à China servindo o propósito de não deixar tocar o gigante Russo com o gigante Britânico.

Durante a monarquia do Rei Shah (1933-1973), o Afeganistão era um país aberto ao mundo e um destino muito procurado por todos os viajantes pela sua história, cultura e beleza natural.

Golpes de Estado atrás de golpes de Estado, levaram os russos a entrar na política do Afeganistão para que se mantivesse à esquerda, e com isto veio a ocupação soviética e a guerra que tanta coisa mudou (1979).

Os Afegãos são o típico povo que não se governa e não se deixa governar, e por isso montaram uma resistência de guerrilha por parte de diferentes grupos de Mujahideen (guerrilheiros do Islão) que, por todo o país, se opuseram ferozmente ao domínio militar russo.

Vários Estados árabes patrocinaram esta resistência por não admitirem perder território muçulmano para “infiéis” e os americanos aproveitaram para alimentar mais uma frente da sua Guerra Fria. É nesta altura que o saudita/iemenita Osama Bin Laden entra no Afeganistão como um de muitos que faziam a ponte entre o dinheiro árabe e a jihad no terreno.

Quando, em 1992, os russos compreendem que nunca conseguirão dominar este país, regressam a casa. E, de imediato, sete grupos de Mujahideen se viram uns contra os outros num dos períodos mais sangrentos e destrutivos da história do Afeganistão, que só termina quando os Taliban ganham controlo do território, em 1996. Este grupo de fundamentalistas islâmicos chega ao poder por pregar um discurso radical que une as fragilidades deste povo, a religião. Apesar das conhecidas atrocidades, execuções, apedrejamentos, crimes contra a Humanidade e retrocesso civilizacional chocante é um período de franca estabilidade e paz relativa no país, que só é interrompida pela invasão dos americanos e aliados, em 2001.

Os Taliban decidiram não entregar Osama Bin Laden e então todo o mundo invadiu o Afeganistão numa guerra que dura até aos dias de hoje, onde os portugueses, à sua escala, também estiveram envolvidos. Já matou mais de 500.000 pessoas e veio agravar a pobreza extrema daquele que é um dos povos mais pobres e mais sofredores do mundo.

1 Response
  1. Joana

    Comecei só a ler-te agora Gustavo (espero que não te importes que trate por tu) e estes textos estão incríveis. Obrigada por partilhares e por nos conseguires abrir os olhos para realidades tão distantes mas tão próximas ao mesmo tempo.

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