Paquistao

Com 210 milhões de habitantes é o 5º país mais populoso do mundo e contem também a segunda montanhas mais alta do mundo e dizem os peritos, a mais difícil de escalar, o K2.

Paquistão significa “terra dos puros”, talvez porque foi criado de raiz para ser exclusivamente a terra dos muçulmanos da Índia. Em 1947 Muhammad Ali Jinah, o pai do Paquistão, oportunisticamente aproveitou a libertação da Índia do domínio do Império Britânico, para criar um estado que pela primeira vez é “só” para muçulmanos. Esta separação da Índia, conhecida como a “partição”, foi dos episódios mais sangrentos que há memória pois o fluxo de muçulmanos para um lado e hindus para o outro levou à matança de cerca de 2 milhões de pessoas de parte a parte, em poucos meses. Daí resultou aquele que é o conflito mais longo da actualidade, a luta por Kashmir, e uma rivalidade eterna entre Índia e Paquistão.

Nesse momento é também criado o Paquistão Oriental que em 1971 se torna independente e é hoje o Bangladesh.

A democracia deste jovem país sempre foi frágil, alternando entre golpes de estado militares e governos civis de curta duração. A tensão política com a Índia motivou vários conflitos e uma militarização exponencial deste estado que é o único país muçulmano com bomba atómica.

Durante a ocupação soviética do Afeganistão (1979), o Paquistão tem uma posição chave ao intermediar o apoio dos EUA e dos países árabes aos Mujahideen que lutavam contra os russos. Quer os americanos quer os árabes nunca puseram um pé nesta guerra mas injectaram milhões através dos Serviços Secretos Paquistaneses.

Guerra Fria para os americanos, Guerra Santa (Jihad) para todos os outros.

Em 1992 quando os russos regressam a casa, fica um vazio de grupos armados com motivações religiosas com base no Paquistão e sem guerra para combater. Assim e aqui nascem os grupos fundamentalistas/extremistas islâmicos como os conhecemos hoje, como a Al Qaeda então liderada por Osama Bin Laden.

A tensão política externa e interna é permanente, num povo muito activo a manifestar as suas opiniões na rua e com um gatilho muito sensível para a violência.

Benazir Bhuto, filha de um ex-Primeiro Ministro, parecia ser uma lufada de ar fresco, com uma educação no UK e nos EUA, liderou o país com coragem. Mas sendo mulher, sobretudo sem usar véu, num país com uma ala da população tão conservadora, era um alvo a abater e após várias tentativas foi assassinada em 2007.

É um dos países mais complexos na sua geoestratégia e com uma relação com o ocidente algo ambivalente e de difícil compreensão. Por um lado, tem uma relação de parceria muito próxima com os EUA, mas por outro é de lá que vem o maior número de extremistas, que fazem do Paquistão o epicentro do terrorismo.

A Província do Noroeste sempre teve um estatuto político especial pois a sua divisão com o Afeganistão é algo fictícia sendo que são o mesmo povo e falam a mesma língua, o Pashtun, que em tudo difere da língua mais falada no Paquistão, o Urdu, muito mais próximo do Hindi. Por este motivo, esta região é extremamente pobre, sub-desenvolvida, rural, conservadora islâmica e politicamente quase sempre em guerrilha contra Islamabad, o que se traduz por ataques constantes à bomba, da autoria principalmente dos Taliban, movimento este puramente Afegão mas que há muito transladou para as regiões contíguas do Paquistão.

Conhecida no mundo inteiro e proveniente desta província, Malala , prémio Nobel da Paz em 2014, foi vítima de tentativa de assassinato por parte dos Taliban, apenas por ser uma menina que queria estudar.

Paquistão – Província do Noroeste, Timergara (2011)

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1. Agora, o Paquistão

Eu tinha de escrever, a minha cabeça estava prestes a explodir com tantos pensamentos cruzados… Eu quase não dormi… o que poderia ser considerado normal tendo em conta as quase 12 horas de jet lag, dos últimos dois dias… mas...
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2. Preso em Islamabad

Dia 5 de Março, 12.00 a.m., à espera de ir para o terreno… mal posso esperar para começar a trabalhar! Recomeçando onde deixei…. … ao sair do aeroporto de carro, numa viagem de cerca de 30 minutos… A minha primeira...
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Já estou em Timergara, mas ainda tenho mais umas coisas para dizer sobre os meus dias em Islamabad… Depois de todos os meus briefings alguns futuros companheiros de equipa vieram de Timergara para Islamabad para descansar durante o fim-de-semana, que...
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Acho que vai ser uma grande desilusão para os meus, porque eu também fiquei bastante desiludido… A minha ideia inicial, de contar histórias baseadas em fotografias, colapsou por completo… Porque nestas zonas há uma tolerância zero por parte dos MSF...
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5. Proibido de Falar

Já passou mais de uma semana… E mais uma vez os meus planos de escrita falharam… por vários motivos, acho eu: Demasiado trabalho… alguns dias e noites têm sido de loucos… A vontade de passar tempo com a equipa, integrando-me...
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6. Bem-vindo ao Paquistão

Já não escrevo há mais de dois anos, e como tudo o que já não fazemos há algum tempo, sinto-me completamente enferrujado. Mas são vários os motivos que me levam a querer escrever outra vez. A minha intenção de escrever...
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7. Mulheres sem nome (1)

Eu nunca tive propriamente um plano. Apenas senti, depois de ter estado no leste do Congo, uma vontade enorme de partilhar, com quantos conseguir, a dura realidade que tantas pessoas enfrentam e que os media teimam em não querer saber…...
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8. Mulheres sem nome (2)

São os meus anos (31/10/2013), não trabalho, e está uma magnífica manhã de Outono. Tenho a sorte de poder dar a mim próprio o presente que eu quero. E acordo de manhã, numa longa conversa comigo próprio na tentativa de...
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9. Mulheres sem nome (3)

Agora já sabem, que nós médicos estávamos francamente condicionados por “regras” culturais, que nos custam a engolir, que se sobrepõem às nossas regras básicas de humanismo…. alimentadas pela ignorância, falta de acesso a qualquer espécie de formação básica (zona do...
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Vejo e revejo, para a frente e para trás, o filme das minhas memórias…. Algumas já enevoadas, fogem-me os pormenores…… e tanta coisa já vivi entretanto… Mas foi tanto e tão forte o que senti, que me custa largar as...
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11. De Volta às aulas com os Taliban (2)

A vida é um conjunto de vitórias e derrotas, e no terreno, as vivências são todas exponenciais, derrotas duras e pesadas, e vitórias que nos enchem a alma, fazem tudo valer a pena e levam-nos a pensar que ainda há...
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No limite. Para mim, a minha missão no Paquistão foi no limite……. no limite da minha resistência física e psicológica, e, claro está, as duas inter-relacionadas. O volume de trabalho era imenso e estava 24 horas sobre 24 horas de...
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13. Hormonas Descontroladas (2)

Duros golpes sofri eu, nesta minha missão do Paquistão….. nestas montanhas perdidas no nosso planeta, com uma população encurralada por uma problemática local, mas com contornos mundiais… Um povo politicamente muito activo que não hesita em mostrar o que pensa....
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Será mesmo que o hábito faz o monge?

Não sei bem porque nunca contei esta história, mas acho que perceberão a importância de a contar agora. Parece que há coisas nas nossas memórias que vão ganhando força com o tempo, e este pedaço do meu passado é uma...
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