(presente de anos para a minha querida mãe nos seus 65 anos)
Foram 10 minutos que mudaram a minha vida… Entre o amor e o ódio, entre o desistir ou lutar com mais força… uma lição de vida…. uma inspiração sustentada em tristes e felizes circunstâncias do acaso… porque a vida é mesmo assim, cabe-nos a nós aprender a (melhor possível) lição…
Talvez a história mais forte da minha vida, mais que não seja porque a dediquei e dedico à minha mãe…
Espero ter a arte de deixar o meu coração falar, uma linguagem que transpareça o que me vai na alma…
Foi há cinco anos, em 2012, que tive o privilégio de viver uns meses no Afeganistão… já a guerra tinha quase 11 anos, se começarmos a contar desde a invasão dos Aliados… mas para este povo Afegão, a vivência de guerra vem desde o início dos anos 70, altura em que o rei Sah foi deposto e forçado ao exílio, em 1973. Várias influências externas tentaram controlar o futuro do Afeganistão, alimentando disputas sangrentas, deste incrível povo e país, cujo carácter sempre me impressionou, e nunca se deixou verdadeiramente dominar… Uma viragem à esquerda do poder em 1978, levou a um apoio que de dissimulado passou a controlo no terreno por parte da União Soviética. O controlo/ocupação soviética conveniente para quem os convidou, nunca foi aceite por grande parte do povo Afegão, que não se deixa vergar… e assim guerrearam até 1992….. vários grupos de Mujahideen (guerreiros da Jihad), contra os super poderosos da União Soviética.
A guerra contra a ocupação soviética é dos períodos da nossa História recente que mais influência tem na compreensão das grandes problemáticas actuais. Pois estes vários e diferentes grupos de Mujahideen, legitimamente (digo eu), queriam ver-se livres da ocupação externa de um povo imperialista e opressor, os Soviéticos… e para isso foram buscar forças a quem estava disposto a ajudá-los na sua causa… E assim, em jeito de guerra fria planetária, receberam o “patrocínio” dos USA, que injectavam dinheiro por intermédio dos ISI (Serviços Secretos Paquistaneses), com o propósito apenas e só de tornar os Soviéticos mais fracos na luta pelo controlo do planeta…. Mas, mais importante ainda, foi o apoio de países Islâmicos Sunitas, essencialmente da península arábica, à causa afegã. Numa atitude conhecida como “a dollar for a dollar”, a defesa do solo islâmico, por parte destes países cobria “no mínimo” o apoio dos USA, a cada dólar, quase por uma questão de orgulho, na luta para que o solo islâmico permanecesse islâmico…. dinheiro este entregue a pessoas como Osama Bin Laden, e muitos outros, que faziam questão de o “aplicar” bem no terreno na guerra contra os soviéticos… e assim nasce aquilo a que nós hoje chamamos de Islão radical, ou político, ou armado, … Al-qaeda!
O Afeganistão, país com um património cultural e histórico de uma riqueza inimaginável, um país lindo de morrer, feito de pessoas com um carácter ímpar, nunca se deixou dominar… e a História podia servir para aprendermos qualquer coisa… mas não aprendemos! No séc. XIX foi a zona tampão no “Great Game”, entre os impérios Britânico e Soviético, em que nem um nem outro, super impérios, os conseguiu dominar, assim como não o conseguiram os super-poderosos soviéticos no fim do séc. XX, e como também não conseguiram, nem conseguirão, os USA e seus aliados controlar este povo que não se deixa vergar…. E com isto, são mais de 40 anos de guerra, o que é mais ou menos a esperança média de vida neste país. É triste pensarmos que, na sua esmagadora maioria, o povo afegão não sabe o que é viver sem guerra… O que eu vivi, durante quase três meses e me destruiu o coração…. é a “vida” para esta nobre gente…
Como sempre, tenho mais perguntas do que respostas, mas fico triste e sinto-me culpado e envergonhado, por ser ocidental e português, e nessas condições ter fomentado esta guerra pós-9/11, que só veio deixar mais morte e sofrimento a um povo que já tinha a sua dose… A obsessão, ao jeito de “western americano” pela morte de Bin Laden, era e foi, obviamente, um enorme erro, que só veio exponenciar ódios, alimentar as fontes de discórdia, e tornar o extremismo e o terrorismo (das duas partes) mais vincado e violento…
Desde2001:
– 100.000 vítimas de guerra (30.000 civis)
– 360.000 mortos por causas indirectas à guerra (fome, doenças, etc)
Quase meio milhão de pessoas morreram, desde que o mundo assistiu em concordância à invasão do Afeganistão…. porquê??….para quê??
Mas o que é que eu sei? Sou apenas um médico, que gosta de olhar para o mundo, tentando ser imparcial na valorização da vida humana…
O que me leva à minha história…
Dia após dia, a tentar fazer o melhor que posso e sei, ia para o hospital na esperança de fazer o que um médico faz: salvar vidas, e/ou melhorar a qualidade de vida das pessoas… Nas minhas funções de anestesista e intensivista tinha como funções, formar os enfermeiros do bloco que faziam anestesia, assim como gerir a unidade de cuidados intensivos, que ficava com os doentes médicos, cirúrgicos e obstétricos em estado crítico… O que me levou a ter o desprazer de comprar inúmeras guerras com diversas áreas do hospital… A minha formação e experiência por esta altura, levava-me a estar bastante confortável e qualificado, na gestão de diferentes tipos de doentes, com diferentes tipos de doenças, e isso é, sem dúvida, o que me dá mais prazer… sentir-me útil a tratar doentes… no entanto, nem tudo funciona num cenário romântico que nós imaginamos…
Este hospital, no sul do Afeganistão, na província de Helmand, era o hospital principal da zona, num raio de centenas de quilómetros …. e funcionava numa parceria Médicos Sem Fronteiras – Ministério da Saúde Afegão… e este bonito casamento tem tanto de necessário como de complicado… e no meu caso o que mais me condicionava e asfixiava, na busca dos objectivos a que me propus (salvar vidas), era a relação complicada que por vezes tinha com os médicos afegãos deste hospital… A qualidade da medicina praticada por eles era péssima, sustentada numa medicina da idade da pedra, cheia de dogmas ridículos sem fundamento científico, e com uma arrogância e orgulho na sua sabedoria (ignorância) assustadores… que várias vezes me levavam à loucura e raiva, que eu tinha que digerir em silêncio, se tinha esperança de poder contribuir para melhorar alguma coisa, naquele hospital e no (pouco) saber daqueles médicos… Não os condeno pela ignorância, pois alguns estudaram medicina no tempo dos Taliban, em que não se podia ter imagens do corpo humano nos livros de medicina, e estavam perdidos no meio da pobreza e da guerra, com muito pouco acesso a informação e formação… mas a arrogância, sustentada num orgulho cego, era própria das características de um povo que, para o melhor e para o pior, tem na sua honra e carácter, características muito difíceis de contornar…
O facto de ser um rapaz novo, não me dava muita credibilidade, e juntamente com a incompreensão do que é um médico anestesista e intensivista, algo que não existe naquelas bandas, levava a que principalmente os médicos mais velhos desprezassem por completo as minhas mais-valias e conhecimentos… e foi aí, que eu quase, quase encontrei o meu limite…
Todas as manhãs, antes de ir para o bloco operatório, passava visita com os médicos, cirurgiões, internistas e obstetras aos respectivos doentes que estavam nos Cuidados Intensivos… diga-se que eram cuidados intensivos muito, muito básicos, que apenas ofereciam cuidados de enfermagem num melhor ratio, e com monitorização dos sinais vitais mais cuidada. E foi numa dessas manhãs, em que assistia/participava na observação de um doente bastante grave… que eu explodi! Era um homem novo, que estava em coma de etiologia desconhecida… E aqui começa o caminho para o meu abismo…
Deixem-me apresentar o vilão desta história, o Professor de Medicina Interna…. um homem magro, de cabelo e barba longos, completamente brancos, nos seus 60-70 anos, e que de professor nada tinha, e ao que se diz nem a especialidade de Medicina Interna teria, mas aqui a idade é um posto, e do alto da sua arrogância ele podia dizer o que quisesse que ninguém o questionava…. Nunca tinha visto um pensamento médico tão desconexo, sustentado em montagens de conhecimentos mal compreendidos, e perigosamente utilizados… Atirava diagnósticos pior do que ao acaso, e tratava-os em (des)conformidade… Aquilo que nunca fazia era assumir que não sabia… de resto valia tudo! E se no mundo da medicina moderna, com tudo à disposição, há tanta coisa que não sabemos, ou não compreendemos em primeira análise, imaginem no meio da guerra do Afeganistão…. Já sabia da sua arrogância e prepotência, mas nunca pensei que me afectasse de tal forma…
Este doente estava inconsciente, tinha cerca de 30 anos, e do pouco que eu sabia da sua história clínica, quer porque ninguém sabia explicar, e/ou “lost in translation”, juntamente com a clínica do doente, levava-me a várias hipóteses diagnósticas mas sem nenhuma certeza aproximada do que se estava a passar: Epilepsia, Hemorragia Cerebral, Meningo-Encefalite…. era o que pairava nos meus pensamentos… mas o Professor em poucos segundos de profunda reflexão fez um diagnóstico brilhante: Intoxicação por Organofosforados (que é um veneno, pesticida, herbicida)…. e relativamente frequente por estas bandas… Mas este diagnóstico não fazia qualquer sentido, porque o doente estava bastante taquicárdico (FC 140 bpm) e com as pupilas midriáticas (grandes) …. e os organofosforados provocam exactamente o oposto…
Por isso, quando o Professor “atira” o diagnóstico, com os médicos mais novos todos a acenar a cabeça, eu vejo-me obrigado a opinar…. e muito educadamente, com o máximo de diplomacia possível, digo: “Desculpe Professor, mas a Intoxicação por Organofosforados, provoca bradicardia e pupilas mióticas.”
E ele, que não está habituado a sequer ser questionado, responde-me curto e grosso, com um sorrisinho irónico e ar de ofendido: “Provoca TAQUICARDIA” …. e eu, no auge da minha ingenuidade, achei que a ciência poderia ser unificadora, e expliquei: ”Os organofosforados inibem as acetilcolinesterases, e levam a acumulação de acetilcolina que provoca BRADICARDIA” …. mas a ciência não chegou para iniciar qualquer diálogo… o respeitado Professor, desprezou-me, não respondeu, virou-me literalmente as costas, e disse qualquer coisa em Pashtun, que fez rir os seus discípulos da ignorância e prescreveu o tratamento (atropina)! para um diagnóstico sem nexo, que poderia até matar o doente…
Fiquei revoltado! Senti-me humilhado por um homem mau, orgulhoso da sua ignorância… e senti-me completamente impotente! Impotente para tentar salvar a vida a este homem, mas que provavelmente também não poderia fazer nada por ele, mas acima de tudo frustrado, pela sensação de inutilidade e incapacidade de lutar pelos objectivos a que me propus: salvar vidas…
E por motivos que jamais pensei que fossem ser os grandes limitadores, de fazer com que este sofrido povo tivesse uma medicina com um pouco mais de qualidade… via que o meu esforço era completamente em vão… Que ignorância! Que arrogância! Que imbecil! Que assassino! Estupor! Tudo! Apetecia-me esganá-lo pelo que me estava a fazer sentir…. e o que me veio à cabeça foi: se não sou útil, vou-me embora para Portugal. Se deixei a minha querida mãe com lágrimas no aeroporto, é para fazer a diferença…. não é para estar aqui a passar o tempo…. Num minuto, estava decidido, também eu fui derrotado pelo Afeganistão.
Quero ir-me embora!
Incrível, quando olho para trás e no meio de uma guerra com bombas a explodir, o que me fez querer desistir e vir embora, foi a frustração de não ser medicamente útil….
DESISTO!, já imaginava a conversa que iria ter com o meu chefe… quando entra de rompante, o enfermeiro responsável do bloco, com cara de pânico e apreensão e me diz: “Rápido, a Dra. Anja está a chamá-lo com urgência no Serviço de Urgência!!”
Larguei tudo e fui a correr…
Felizmente, toda a raiva, energia hiper-negativa, e o fumo que me saía por todos os poros do corpo, foram postos de parte mal senti o tom de voz de urgência do enfermeiro que me veio chamar…
Houve um tom de voz que o chamou por rádio, que o levou a chamar-me com um tom de voz que transbordava preocupação… fosse o que fosse levou ao pânico de várias pessoas…
A Anja era uma médica alemã, especialista em Medicina Interna, que era a responsável pelo Serviço de Urgência, excelente profissional, conhecedora, trabalhadora e competente, bem ao estilo alemão… E, se me estava a chamar com aquele grau de urgência, o meu coração tinha motivos para estar a bater mais rápido…. Ainda era bem cedo, e estava um dia frio de morrer, com um sol radiante…. senti os pulmões a arder de frio, enquanto corria para o outro edifício onde se encontrava o Serviço de Urgência…
Entro de rompante na sala de reanimação do Serviço de Urgência, e vejo pânico! Pânico na cara dos enfermeiros, pânico na cara da Anja, e uma criança deitada na maca, com a mãe coberta com uma burqa azul aos gritos de desespero, aninhada de cócoras no canto da sala, com muitas, mas muitas referências a Allah…
Era um menino de 2 ou 3 anos, e estava a morrer, estava azul e já mal respirava… não tenho dúvidas de que a morte estava iminente… fosse o que fosse.
“Anja, o que se passa?” pergunto.
“Acho que tem um feijão a obstruir a traqueia!” responde-me, nervosa.
A Anja estava com um laringoscópio (aparelho para ver a laringe e a traqueia) e com uma pinça de Magil (pinça com formato angulado para aceder à laringe e à traqueia)… e sem sucesso tentava retirar/puxar o feijão que obstruía por completo a traqueia e assim a passagem de ar para os pulmões…
Acho que tenho a sorte de ser muito calmo sob pressão, e transpareço uma calma de ferro em situações de emergência médica… Assumo o comando da situação… Incomoda-me, claro, a mãe debaixo de uma burqa aos berros, e gritos por Allah, que com alguma dificuldade embalam o meu raciocínio… Nunca tinha vivido uma obstrução da via aérea numa criança… Agarro no Ambu (balão insuflável) e na máscara facial, e adapto-a com toda a força à boca e nariz do rapazito…. forçando a ventilação… enquanto peço o material de que preciso…. e, numa voz firme, peço três coisas: Ketamina (anestésico geral) Succinilcolina (relaxante muscular) e um tudo endotraqueal de tamanho adequado… O pânico e os gritos levam a que os enfermeiros não percebam nada do que eu pedi… e aqui valeu-me talvez a enorme sorte do enfermeiro do bloco estar comigo, que foi em segundos buscar o medicamento que só havia no bloco operatório, a succinilcolina… O menino já não está azul, está preto… está a morrer nas minhas mãos… e eu ainda tento uma vez introduzir o tubo endotraqueal, só com a Ketamina, mas a rigidez muscular do rapazinho não me permite fazê-lo… A frequência cardíaca passou de um valor assustadoramente rápido, para frequências cada vez mais lentas… é um sinal claro que a criança está a morrer… são segundos… talvez dois ou três minutos que parecem horas… e eu já não posso ouvir a mãe aos gritos por Allah…
Chega a succinilcolina, digo aos enfermeiros como a diluir e rapidamente a administram na dose indicada… A minha estratégia é simples…. nunca fiz, mas sei que é o que se deve fazer…. não tentar tirar o feijão, mas empurrá-lo para dentro…. A traqueia divide-se em dois brônquios principais, e se eu conseguir empurrar o feijão para um dos brônquios, aí já consigo oxigenar um dos pulmões o que chega perfeitamente para lhe salvar a vida…
Ninguém percebe o que se está a passar na minha cabeça, mas confiam e seguem as minhas ordens… Mal o rapaz ficou com os músculos completamente relaxados consigo introduzir o tudo endotraqueal e empurrar o dito feijão para um dos brônquios, e começo a ventilar eficazmente a criança… É daqueles momentos na medicina que parece um milagre… em poucos segundos o menino fica rosadinho, na sua coloração normal, e a frequência cardíaca aos poucos sobe para valores aceitáveis…
A Anja, que está com o véu islâmico que as regras culturais obrigam a cobrir-lhe o cabelo, com os olhos ensopados em lágrimas, põe-me a mão no ombro e diz-me: “You saved the baby!”….e os enfermeiros logo após a limparem o pânico das suas caras….”Dr. Gustavo….you saved the baby!”…. e eu sorrio…sinto o corpo todo a tremer, passa por mim uma corrente eléctrica que quase domina os meus movimentos…. mas tento refrear…. solto um sorriso, mas ainda não deixo saírem as emoções…. meto-as para dentro, pois ainda tenho de pensar como médico… o meu trabalho ainda não acabou….
Assisto a respiração da criança com o Ambu, enquanto o efeito da Ketamina e da Succinilcolina não passa por completo…. e quando a criança começa a recuperar a sua autonomia ventilatória, começo a respirar fundo de alívio, até que mais uns minutos e retiro o tubo endotraqueal da traqueia do rapazinho…. e, depois de uma ou duas tossidelas, ouço-o a chorar vigorosamente…. e aí senti que me tinha saído o Euromilhões!!…. uma felicidade e uma alegria, que só me apetecia que o mundo congelasse mesmo ali…. sorrimos em conjunto, e não contenho as lágrimas de alegria, de nervosismo (tardias), e mais sei lá o quê…. Claro que peço aos enfermeiros para explicarem em Pashtun à mãe que a criança está viva…. está a chorar e está bem… Mas esta mãe, não sei se paralisada ainda pelo pânico, parecia não entender que a criança estava fora de perigo…. continuava aos gritos por Allah… Só passados uns minutos de insistência por parte dos enfermeiros é que ela se levanta da sua posição de cócoras e ainda a medo levanta a sua burqa azul, para ver que o seu querido filhinho está mesmo bem… Não consigo sequer imaginar a dor e sofrimento que esta rapariga, perdida no meio da guerra, traz o seu filho a correr ao hospital, depois de se ter engasgado com um feijão… e depois vê-se com dois médicos estrangeiros, a falar uma língua esquisita, num aparato de pânico generalizado…. e que agora a morte que parecia certa, já era passado! Ver a cara desta mãe a pegar no seu filho ao colo, foi ganhar o 2º Euromilhões!
Foram momentos mágicos… a criança ainda esteve 3 ou 4 dias no hospital, para vigilância, mas felizmente tudo correu super bem, e recuperou como se nada tivesse acontecido…
Um dia feliz, na vida de um médico… Penso que a minha missão principal consiste na formação dos locais, nas sementes de esperança que os MSF deixam nos povos mais esquecidos e injustiçados do planeta e com isto representando todas as vozes e opiniões de paz… Mas nestas vidas salvas, egoistamente recolho “medalhas de honra” que me enchem de orgulho e me fazem muito querer continuar…
Que importância tem uma vida salva, quando já morreu meio milhão? Estatisticamente nada! Mas para aquela mãe, TUDO! E para mim, ajudou-me a encontrar uma parte da minha personalidade que muito aprecio e tento alimentar… a resposta às adversidades… Num momento, estava decidido que ia desistir… poucos minutos depois, só pensava em lutar com mais força!
Desistir ou Lutar com mais força??? Há um mundo à nossa volta!
Foi esta a história que escrevi por email, em 2012, e ofereci/dediquei como presente de anos à minha querida mãe, por saber as maldades que lhe faço ao deixar-me levar por estes sonhos… É muito duro, e injusto, o que eu lhe faço… Deixar-me ir para dentro deste bicho-papão que se chama Afeganistão, que (erradamente) representa apenas bombas, morte e sofrimento… Mas não consigo deixar de querer ir…. porque aqui encontro o melhor de mim… a pessoa de quem mais gosto… E por isso dediquei e dedico tudo o que já fiz de bem, simbolizado na vida deste menino…. como atenuantes às maldades que um filho faz a uma mãe…
De mãe para mãe! Esta mãe afegã não sabe que, para o seu filho estar vivo, a minha mãe teve que ficar com o coração destroçado, com medo de ligar a televisão no noticiário, e nervosa a cada vez que o telefone toca…
Mas eu acho, Mãe, que esta mãe afegã gostava de lhe dizer exactamente a mesma coisa que eu lhe quero dizer a si: OBRIGADO!
Gosto de pensar como se houvesse uma taxa de felicidade mundial… deixo algumas pessoas tristes, mas por um bem maior…
Tenho muito a perder, mas que de nada me vale se perder a humanidade!
Porque as homenagens são para ser feitas, todos os dias em que temos oportunidade:
PARABÉNS à mãe mais bonita do MUNDO…. e eu por si, vou tentar Lutar com Mais Força!