Viagem à Palestina

Antevejo que seja o texto mais polémico, que já escrevi… embora não seja esse o objectivo. A minha vontade é sempre pôr por escrito reflexões e sentimentos que sejam construtivos para a humanidade… Acho que posso dizer que fiquei com uma boa ideia daquilo que é a Palestina e a sua relação com Israel. Fiz a Faixa de Gaza de norte a sul várias vezes (onde trabalhei), entrei e saí da Cisjordânia várias vezes, onde visitei Belém, Hebron, Mar Morto, Jericoh e Ramallah… além de ter feito muitos kms à deriva para absorver e compreender o mais que conseguisse. Passei também uma série de dias em Jerusalem e talvez comece por aí…
Como declaração de honestidade devo dizer que fui-me tornando pró-Palestina à medida que fui olhando para o mundo com vontade de o compreender… por uma questão humanística pura e simples: é onde eu vejo as injustiças a serem cometidas e onde eu vejo gente encurralada a sofrer…
A grande Jerusalém é estranha… Bairros Árabes, bairros Israelitas que coexistem mas não se tocam… Autocarros de uns e de outros que têm rotas diferentes para fazer os mesmos trajectos… gente que se cruza na rua mas não se olha, a não ser para rotular e virar para o lado… Dos momentos que mais me chocaram, foi na cidade antiga de Jerusalem enquanto vagueava perdido pelo bairro dos cristãos, que são Árabes… (sim a chacina dos Palestinianos é essencialmente de muçulmanos mas também de cristãos)… quando uma menina de cerca de 7 anos me pergunta em Árabe: “Israelita ou Palestiniano?” … Eu percebi a pergunta, e percebi que era Árabe, mas não estou dentro do binómio e não sei falar Árabe, pelo que não disse nada meio embaraçado… E ela verbalizou “ahhh… Israelita” e desiludida seguiu o seu caminho… e eu o meu, a pensar porque raio uma criança sozinha sente a necessidade de fazer esta pergunta… é uma paranoia colectiva difícil de descrever. 
A cidade antiga de Jerusalém é linda de morrer, e para além desta beleza magnânima que salta aos olhos dos mais desatentos, eu diria que há 3 formas de sentir o que se passa dentro destas muralhas:
1) A história. Dos povos, dos impérios, dos reinos, das religiões… de uma das zonas habitadas há mais tempo no planeta, e que sempre foi importante.
2) Da convivência próxima das 3 religiões: Cristãos (sub-dividimos em correntes diferentes), Judeus e Muçulmanos. é interessante ver que num km2 estas 3 encontram alguns dos maiores símbolos e locais de culto das suas histórias, e não se estão a matar uns aos outros, ainda que lado a lado.
3) O Fanatismo e a Intolerância. Sim convivem lado a lado, mas eu nunca tinha sentido tanto fanatismo religioso em parte alguma. Declaro também com honestidade que sou ateu, mas gosto de sentir a espiritualidade e devoção que muitas vezes senti em locais de culto de diferentes religiões… Mas ali senti fanatismo. Os Judeus a rezarem no muro das lamentações parecem as crianças nas madrassas do Paquistão, os Cristãos a carregarem uma cruz enorme e a esmagarem-se para tocar em algo que representa o túmulo de cristo, e os muçulmanos que quase nem deixam entrar não-muçulmanos na mesquita de Al-Aqsa… 
Acho que nunca me tinham perguntado qual a minha religião, e nestas semanas perguntaram-me várias vezes! 
Devia ser proibido que esta pergunta fosse feita por qualquer organismo ou autoridade. É inadmissível. 
Em Hebron só me deixaram entrar numa mesquita por não ser judeu, e ao lado deixaram-me entrar numa sinagoga por não ser muçulmano. Alguém me explica que mundo é este?

Para os mais desatentos, aos olhos de Israel, a Palestina não existe… existem uns pequenos pedaços de terreno onde os Israelitas toleram que os Árabes vivam… Ainda para mais a Faixa de Gaza e a Cisjordânia estão tão em contacto como Portugal e a Nova Zelândia…

Entrar, viver e sair da Faixa de Gaza é uma experiência muito forte… Ali vivem enjaulados mais de 2 milhões de pessoas num pedaço de terra de cerca de 6 kms por 40 kms, e de lá não podem sair e quase ninguém entra… Israel transformou aquelas pessoas em hamsters que para esticarem as pernas têm que andar às voltas até endoidecer…
Mas sinceramente, o que mais mexeu comigo (e isto é um texto de emoções) foram os colonatos na Cisjordânia… Já tanto tinha visto na televisão e ainda assim o meu choque foi total! Israel conquista terreno à lei da bala, expulsando Palestinianos de suas casas, construindo bairros, muralhando-os e com exército de metralhadoras apontadas à porta… e a Palestina são ilhas de gente , que se vão concentrando como se o mar estivesse a subir até que fujam a nado ou morram afogados…

E o argumento qual é? É simples. É divino! “Esta terra foi-nos prometida e os nossos avós aqui vivem há 3800 anos.” E só há uma forma de lutar contra o divino-argumento, é juntando-se a humanidade que há em nós, na premissa que somos todos iguais. Tenho o máximo respeito por todas as religiões, mas quando estas entram no domínio da Intolerância, para mim tornam-se intoleráveis! 

Israel é um estado de fanáticos, de segregação máxima, é um Apartheid que considera os não-Judeus como lixo, tal como todos que me estão a ler se não forem Judeus. Lixo!

Palavras de quem já viu muito mundo nas suas missões humanitárias, onde tento acima de tudo ajudar as pessoas e tornar este mundo mais justo e mais honesto… E tento ser totalmente tolerante naquilo que é matéria de opinião, e que não interfere na liberdade/felicidade dos outros… e sou absolutamente intransigente com tudo o que vá contra os Direitos Humanos Universais!

Uma palavra de admiração máxima para todos os Israelitas e todos os Judeus, que são contra as acções xenófobas do seu estado!

Adorava sim, que o Conan Osiris mostrasse para que serve a Arte, e mostrasse que: Eles têm o dinheiro e as armas… mas não terão o nosso coração! Só assim mudamos o mundo para melhor!

(espero do fundo do coração não ter ofendido ninguém, nas minhas reflexões de espirito livre, que apontam na minha humilde opinião, para um mundo mais justo.)

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