Descobri Fridtjof Nansen por acidente. Acabara de regressar de uma peça de teatro acerca da vida de Aristides de Sousa Mendes que era, nessa altura, um assunto popular pela recente estreia do filme Aristides de Sousa Mendes, O Cônsul de Bordéus (que também vale a pena conhecer). De curiosidade despertada, fiz uma pesquisa rápida na internet e as palavras erradas – ou talvez ainda mais certas – levaram-me até aos passaportes Nansen e daí, até ao seu fundador. Apesar de ter admirado o espírito aventureiro deste norueguês do início do século passado – uma boa história de aventura fazem sonhar – o que acho realmente digno de partilha é o seu percurso na luta pelos direitos de todos aqueles que são deslocados à força. Sempre que viajo, quando entrego o meu passaporte a um estranho que me examina e me dá passagem, lembro-me do dia em que, ainda criança, perdemos uma viagem porque os meus pais não tinham bilhetes de identidade para mim e para a minha irmã (na altura, ainda não obrigatórios) e imagino como teria sido voltar a casa, se o sentimento não fosse apenas a frustração de umas férias perdidas, mas o medo e a iminência da fome, do frio, da separação, da morte. Agora um reconhecimento anual da ONU atribuído àqueles com esforços notáveis na ajuda a refugiados, Nansen é também o nome de um passaporte que permitiu a milhares cruzar fronteiras, fugir de guerras e manter-se vivo num mundo que, afinal, é de todos.
E numa altura em que um chefe de estado diz preferir receber imigrantes da Noruega em detrimento de tantos outros países, vale lembrar um norueguês que há tanto tempo, pensou de maneira tão diferente.
Fica aqui um resumo em vídeo acerca de Fridtjof Nansen, merecendo no entanto uma leitura mais detalhada.
A história da sua vida, também em filme “Bare et liv” – Apenas Uma Vida.
(Ana Lu)